domingo, 29 de março de 2015

Multi-Metamorfose

O tato que nos faz deduzir as feições e demais formas de um corpo
Nos engana por não ser coerente com o poder da nossa visão
Tudo o que podemos ver nos atinge com muito mais violência do que qualquer toque

Olhares constroem histórias
Olhares compõem memórias
Sem que palavra nenhuma seja dita
Sem que som algum seja proferido

Como as pálpebras que piscam
A vida muda e se transpõe
Numa profunda e complexa metamorfose
Que nos obceca em tentativas de compreendê-la como um todo

Não tente
Não se desperdice tentando
É nas entrelinhas subliminares que podemos entender

terça-feira, 24 de março de 2015

Mais leve que o céu

Subir e planar
Subir e planar
Sucessivamente
Ininterruptamente

Pra que nenhuma rédea seja necessária
Onde a distância fale por tudo e soe normal
Nunca baixando a cabeça
Nunca descendo

sábado, 7 de março de 2015

Rato de rolê

No meio do caminho tinha um bar
No meio do bar tinha um caminho
No meio da pinga tinha uma careta
No meio da cerveja uma filosofia

A mesa que envolve faz de mim um orador
Daqueles que engrandecem qualquer sílaba
O copo que me rege dita a mim todas estórias
De quantas escórias fui capaz de enfrentar

Desce breja
Senta mais um camarada
Passa gente que me odeia
Mas o copo sempre indo

A arqueologia dos roubos dos goles
A metodologia dos pedidos de tragadas
A ciência de todas as vontades
Explanada na miúda

Fumando a quimba que é presente
Na migué das saideiras
A fartura do copo que nunca oscila
Na constância de um bolso sempre vazio


sexta-feira, 6 de março de 2015

Bolso de malandro

Homem
Lobo do homem
Crente e descrente
Do mesmo santo e da utopia

Homem
Topo do inverso
Lago dos vazios
Berço dos mistérios

Pode pa que vai dar certo
Pode crer que vai ser feito
No jeito de quem se ajeita
E incomoda com seu jeito

Se não passar agente empurra
Se não for agente chuta
Mas vai
Mas foi

Homem
Gente que tenta
Gente que atenta e põe o dedo na ferida
Faz da terra uma sacola e de suas alças uma história


quarta-feira, 4 de março de 2015

Cadê o fundo ?

A força da gravidade exerce o seu papel
Enquanto desço me afogo em memórias
Num constante desespero que afronta meu orgulho
O peso é imenso e a força é incontrolável

A serenidade passa longe
Fica pouco pra sanar minha loucura
Flerta comigo em insights de pureza
Mas não se faz suficiente pela falta de lisura

É insustentável
É difícil
É ruim
É insuportável

Preciso do fundo
Preciso pisá-lo
Preciso da certeza de que nada possa piorar

domingo, 1 de março de 2015

Corpo insalubre

O mundo que cabe em meus olhos há de explodir
Permeado por visões que absorvem ódio
Enfraquecido por abstrações que levam embora a minha plenitude
Tudo o que me confunde expressa-se pela contração de minhas pálpebras

Sobre o que ouço
bastam os nomes que aclamo quando ecoam em minha presença
As vezes em que uma simples vírgula acaba soando como insulto
Ou do ponto final colocado no lugar errado

Que os enfermos que me afligem extinguam-se
Que a sina de dedo podre não se faça mais valer
Quero uma folha em branco
Quero uma página para escrever

Pra que seja bonito o sentido de se viver
Por algo belo que se possa ter
Por um orgulho que seja sadio e não me deixe destruir o que tenho
Pelo encaixe perfeito entre alguém, meu braço e meu peito