terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Cerveja quente

Meu som que esvai dos pulsos e me banha em suor não é seu tipo
meu som não é feito de aço
nem é pra dar palco 
pro seu bandolin

Minha letra passeia a beira 
do chão e da rasteira
a driblar o limbo
morre na mesa de um bar
pra você postar triste seu fetiche

O artista preso a uma cadeira
a cerveja esquenta 
o amor esfria




sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Desamança

Testa sua casa em mim
e vê se me confunde só um pouco, 
eu sei 
que tudo dura até o tempo ruim
ficando pros sopros teus ventos ateus

Banha tuas quedas aqui
Desamança a fera do meu corpo, e o seu
deixa que eu bagunço até o fim
despindo a distância entre você e eu


domingo, 22 de outubro de 2023

Panacéia 2

Tudo pode ser encontrado,
exceto a dúvida

A dúvida é um acidente espontâneo
antecessora da teoria 
acomete aos cuidadosos abdicados de certeza
é desapercebida aos presunçosos das ideias de si mesmos

A dúvida mora na pequeneza humana
de ocupar o topo dos relevos da camada superficial de seu próprio chão
mas, se faz futuro a quem lhe permite indagação
pois sem a dúvida, nada se encontra.


Panacéia

Atrás das curvas
por entre os poros
no limite do alcance da visão 
em meio aos vivos deste tempo ou após a miragem 
camuflado na vegetação 
o susto,
todas as necessidades e tudo o que em matéria existe
tudo pode ser encontrado
a romper o silêncio que guarda o comportamento
e que muito se transpõe
pois todas as formas são ideias
todo o palpável é fruta que funda a mim mesmo
nas receitas de panacéias
a rascunhar o parto da obra

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Pessoas em todos os lugares

Tudo é sempre sobre alguém
o tato
o luto
o quadro
a foto
o cheiro
a notícia
as cores
o passado 
o concreto
a lembrança é honrar a morte dos vivos
soldar os fios cortados de tempos remendados

portanto é a coisa de ser, uma força motriz
gambiarra das existências
indispensável e inseparável culpa dos encontros
carnal eternidade
destemperada efemeridade 
chance ou livramento em relacionar-se
porta atrás de porta




sábado, 12 de agosto de 2023

Machado de Xangô

Às costas perfuradas
buracos frescos expõem a suculência de uma carne doída
banhada no ardor de minhas veias expostas
feridas e vísceras que respingam o inesperado 
arapuca fora de vista, fora de tempo
executada ao silenciar do fim de um show

E de joelhos firmo a palma dos pés que outrora flutuaram
do chão não passo
porque não vou cair agora
no meu peito levo a malícia 
e em minhas mãos carrego o meu machado
trago na vermelhidão dos olhos a incumbência
irreparável dos dias tortuosos 
caminharei mancando às dores de longos passos
e no momento exato golpearei certeiro a justiça de xangô

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Trabalhe enquanto eles te fazem de otário

Meus problemas mais pequenos
abocanharam a sobriedade de minha razão
levando embora o tempo leve
dos passos curtos de quem caminha desfrutando o respirar 

Bebo da água gelada para esfriar meu ódio
amansar minha fúria 
por estar preso na amarra proletária
que entre goles de água gelada
vê descer goela abaixo a secura da raiva em não poder dizer não

Detesto o dinheiro que me faz continuar
pelas necessidades das convenções terceiras ou porcarias inúteis que me ponho a precisar




quinta-feira, 20 de julho de 2023

Bolinha de papel

Eu gosto 
de como as coisas se    e s v a z i a m
porque foram antes 
pensamentos e palavras 
treinadas

me encanta 
todos os rabiscos do papel 
amassado e inútil
que outrora fora o ápice de uma necessidade

eu digo que falo com as paredes 
porque é cômodo
mas paredes não se importam, não me escutam
eu falo é comigo mesmo encantando os rascunhos
do canto que se faz pra dentro
onde a voz que aquece palavras ao vento ressoam da capacidade do meu corpo em lutar


segunda-feira, 12 de junho de 2023

Amanhã, talvez, quem sabe?

Lhe beijo esquivo após o coito
como quem não quer mais nada 
entremeio dos fluidos que ficam e os corpos que seguem
anseio os tragos da solitude
fumaça a pintar as frestas  do cômodo que me dá o ar fresco
vazio de fim de festa 
bagunça que fica pra anfitrião
por hoje é só
amanhã quero de novo





quinta-feira, 8 de junho de 2023

Carne e imagem

Teu corpo traz acessos certos
imagem do que se é ideia do outro
cópia em consenso
do que deve ser
ali e agora, neste e naquele tempo

Sua fala, confusa
bem dita e incerta, contestável
longe da altura das marcas do físico
me põe tensionado em transe
no gozo e a dúvida
da consumação da carnavalesca 

Tua biografia inalcançável
bem longe dos toques e opostos
mal sabem ser em palavras ou posturas
pois apenas serviu, ao corpo que traz acessos
às falas confusas e ao tempo que se fez só carne e imagem 

sábado, 15 de abril de 2023

Lá fora, de novo

Repentinamente 
o silêncio entorna a certeza e molha a cara, suja o chão
escorre contemporânea as curvas mal feitas 
pensa a vida além do corpo 
e no balcão fecha a conta 

Lá fora eu vou tentar de novo
Futuro cadáver que sou
Com menos cabelo
Com medo do tempo
Irresistivelmente chato
Inofensivamente mau
Já sei que o mundo não me deve amor

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Não me faça gostar de SP

Não me faça, por favor, gostar de SP
sentir-me feliz passando a ponte do Piqueri 
gastar o vale night 
comprando passagem da cometa
pra descer no Tietê