terça-feira, 31 de outubro de 2017

Estamos em OBRA

Para Filipe Castro


Creio nas palavras mudas
dispensáveis, sob olhares entendidos
braços insistentes
entre notas e respostas
das inquietudes que nos acometem

creio na coragem de quem paira ao centro para cantar
do peito casa que se abre para expor o amor
a dor e a delícia de se fazer gente em som
onde mesmo sem a dança que abraça os corpos
não há medo para calar

creio na junção, somatória de anseios
no alinhamento do cosmo
na astrologia das estrelas solitárias sem brio
avivadas na força de um conjunto
com braços e abraços fortalecendo-se no mesmo propósito

A distância entre o fato e a quimera
é o espaço perpétuo de labutas e tentativas
práxis árdua
tijolos, pedreiros e uma obra a ser feita

logo atrás, estarei sempre intenso
nas levadas da batida que nos une
esperando seus solos ou deixas
entre improvisos, instintos, erros e acertos

então vá longe menino
voe alto como o pássaro tatuado em teu peito
voe no tamanho da vontade das noites de delírio
em teu quarto
em teus desejos e arranjos
na grandeza do arrojo
de mudar o novo
sem que ninguém possa te impedir de sonhar






sábado, 28 de outubro de 2017

algumacoisa.mp3

O couro estica e
apanha da mão
tange a dor em deleite
arde a palma pulsante

o corpo
em transe
confunde-se com movimentos
em tempos
repetições
frações
refrões

líricas diversas
de notas
tons
e ideias
um sonho que ecoa em frenquências
toca a pele por meio de suas ondas
e faz tremer como um grave
o peito do sonhador

minha música não tem preço
rasante em chão
errada demais para ser alguma coisa
não tem cor
nem cheiro de novo
é justaposição do meu passado
do que já fui e que coube em um som
tronco a vista mas com raíz
analógico, elétrico, digital
visceral
escape psicosocial
de um coração que ainda bate
ritmado em aceleração constante
em ressonância aos acordes da vida



segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Amor e rE(x)istência

Hoje acordou o dia
que se arrasta pelo resto de outubro
raiou as sobras do resto de um 2017
que se esvai inconstante
em datas
prazos e planos

morrem os dias
as semanas
meses e anos
para que nasçam os dias
semanas
meses e anos

a régua do tempo segue reta
abrange tudo o que lhe cabe enquanto dura
suporta
sua finitude é a vida e a morte
o marco zero de uma escrita
e o subsequente ponto final

mas não cabe em medições os feitos
produtos
subprodutos derivados de alguém
que se guardam ou se perdem
respingados
transbordados
transportados no outro
em quem toca ou corre
teme, encara, ouve ou vê
em medições de outras réguas
lineares
também limitadas
que também se perdem em respingos
das sobras e das faltas
que preenchem ou faltam nas lacunas

vida e morte são detalhes
tempo é relativo
mundo é o que se vê
feitos e fatos são variantes constantes
obras que transpassam a existência

e cabe aí o que tiver de ser
nascido de onde quer que tenha vindo
na forma inédita em que se criou
por quem
ou para que
se fizesse um sentido em seguir
acreditando na contagem do relógio
pela espera do depois
enquanto averígua-se os vestígios do que se foi

somos as sobras e as faltas de todas as réguas que nos invadem
vivemos nos dias consequentes
do espaço tempo em que nos colocamos a vir existir
tentando entender onde cabemos e a que serviremos
de modo a ser quem ?
eu não sei
mas o branco do vazio não significa tristeza
é régua a se medir
espaço a ocupar
se fazer valer
resistir
e amar


sábado, 21 de outubro de 2017

pensamentos de um rapaz latino americano sem dinheiro no banco

Por quem,
eleva tua crença ?
faz curva fechada em desavença
estes braços tão pesados
levantam
a quem, os blocos de concreto ?

Para que tudo se edifique
suba ao alto feito um prédio
e caia abaixo como ocupação
então,
militas a quem tua esperança ?

Verás mesmo que um filho teu não foge a luta ?
ou julgarás covarde
quem correu simplesmente por ter medo
por temer

Temer
A força que se faz acima sem botar o próprio sangue na mesa
que bebe da inocência de quem crê que sabe a trama
e se inflama
no discurso de palavras que driblam
as vielas, as favelas
a vida do preto e do pobre

Que cante o corvo, a ida eterna dos que se fazem das falácias,
dona morte
encarregue-se da urgência de buscar quem se esconde
ou pensa que consegue esconder

O ouro da coroa ainda fede
cheira à putrefação dos nossos antigos
e dos nossos filhos,
resta a cápsula
ou o projetil como projeto moderno,
da arma de fogo
engenharia da morte

As palavras que escrevo valem não somente para isso aqui
veste a carapuça de Cuzco, Sucre, Huanchaca e Potosí
das Antilhas ao Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília ou Uberaba
permeia vivo nessa terra a vida
a morte
o sonho
de Sandino, Zumbi, Simon Bolívar, Lampião e Marighella
jazes heróicos
sacrifícios
e vontades de se costurar, da Argentina ao México
as veias abertas dessa américa latina

Porque a história se repete
primeiro como farsa
depois como tragédia