terça-feira, 20 de novembro de 2018

Tecnologia de ponta para selfies com frases de efeito

Wi-fi e poltronas
são gaiolas abertas para pássaros sem asas.
A coragem mede a espessura do ferro das grades.
As almofadas e os encostos condicionam
e estigmatizam o conforto e a liberdade,
a seguridade
o
                                        isolamento
,
nas telas que sugam o ego através da visão,
na ação de dedos treinados,
que desde cedo dançam no fluxo
de uma barra de rolagem que
      d
         e
           s
             c
               e
                 
                     e
                   
                      t
                     
                      e
                         
                      r
                           
                      n
                             
                      a
e dogmatiza o senso de pertencimento,
de representação,
de expressão e alcance de ser.

Muda a dieta, para além da televisão.
Pelo fim das fronteiras, (?)
que se foram e deram lugar
para a representação pixelada,
a realidade em 4K,
amostras digitalizadas das dimensões históricas
insustentáveis,
que nos separam entre quilômetros de seguidores.

Nu da própria ciência,
com muita fome,
se come da desinformação,
que até perece
ter gosto de verdade.

(COMPRE_SEGUIDORES_LINK_NA_BIO)

Fartura efêmera que desce seca,
pela garganta de quem mastiga depressa.
Muito simples é pouco,
para corpo que fede o cio da interação,
esvaído em linguagem binária,
ramificado em hiperlinks,
imerso no tempo do homemrede.com,
crucificado ao vivo para os seus seguidores
em um pedestal de posts, views e
likes travestidos de conexão.

Onde a carne de nós se faz dados
nesse açougue da web mercantil.
Plataformas que assim nos violam,
nos vendem a ideia de tempo e de vida
e nos propõe as facetas do que se é
e como se deve ver o mundo.

Passos de pés que passam,
assim, tão desapercebidos,
reféns da ansiedade das mãos
que checam a vibração,
as vezes imaginária,
no bolso da calça.

O corpo ereto do Homo Sapiens Sapiens
agora curva para baixo o seu pescoço.
E se alimenta do que cabe em algumas polegadas.

Quanto tempo da minha vida eu ainda vou perder olhando para uma tela ?

Escreveu o homem que digitou em um teclado enquanto olhava para uma tela.