terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Passagem

No encontro do que fui ao que um dia hei de ser
vi os calos de minhas mãos serem troféus pelas mudanças que sofri
vi na ausência de quem me jurou a eternidade
o silêncio ensinar o corpo que não tem certeza sobre o que diz
vi nas rugas, a beleza metamorfósica
senti a calma consumindo meus passos pra livrar-me da ânsia de agir por impulsão

E fui de tudo
e fiz de tudo
aprendi palavras novas pra saber me expressar
entendi o ciclo dos corpos pra saber me portar

Fiz minha morada em todos os cantos que me senti liberto
chamei de meu o pouco abundante que fez farto meu cardápio de sorrisos
me perdi em encontros que aguçaram minha incerteza
me encontrei em desencontros pra ter a certeza de que não há certeza alguma
dois mais dois também pode ser cinco, o infinito pode não ser porra nenhuma
a exatidão se faz do acaso da ciência de nossas dúvidas

Me alforrio da obrigação de ter que decidir
pois foi deixando ser que me fiz poeta
foi deixando ir que aqui cheguei
trôpego em planos plausíveis
firme e forte em sonhos impossíveis


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

TCC

Ah se você soubesse das contrações que me dilaceraram
das dúvidas quanto ao teu rostinho
e da incerteza acerca dos teus passos
sua ausência ainda é uma certeza
mas nutre a esperança de que um dia caminhará liberto

Nem que eu pudesse imaginar
acreditaria em sua identidade
fez jus às confusões de minha mente
dando vasão ao que eu nem imaginava ter dentro de mim
a dor é eminente

Estou parindo

Malabarista da praça

Paraty-RJ, 4 de janeiro de 2016

O balanço do teu corpo me seduz
me faz crer que a vida é uma canção
em meio ao compasso dos passos
que faz teu corpo rodar
enquanto brilham os meus olhos
hipnotizados com seus movimentos
despido dos porquês que me levaram a você
enquanto transo estático acompanhando sua dança

Sua leveza traz paz ao caos que lhe assiste




terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Leal

Paraty-RJ, 3 de janeiro de 2016

Onde pedras traçam o canto
como uma trilha que nos faz olhar pra baixo
onde o aperto e o cheiro da madeira
se transformam em goles de redenção
pela destreza do velho que veste um chapéu

Tempos que transam desiguais
entre tijolos que exalam o ranço do suor de escravos,
uma moderna alvenaria paga a prestações pela classe média
e mansões desnecessárias de pessoas vazias

300 praias de um fardo monárquico
que fazem de suas belezas uma brecha para a exploração
que se justifica pelo peso de seu lugar na história
história que falou de quem mandou
e que ignorou quem a tornou palpável

Mas é na riqueza do contraste das esquinas
que as pulsões se estabelecem
levando sentido e mais cores
ao lugar que transcende o tempo
contando segredos em cada porta que contempla a rua
em cada sorriso desprovido de certeza



domingo, 10 de janeiro de 2016

Ribeirão Preto, terra da cerveja

A mão que ara a terra ergue o copo com valência
o suor do panhador em redenção por cada gole
o gosto da poeira em cada nova saideira
a remição dos bebedores em rodadas de malemolência

Viva a terra do café banhada pelo ribeirão
viva as mãos italianas que avivaram a fermentação
um brinde ao calor, um brinde ao progresso
califórnia brasileira espumando em tradição