terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Queima

Nossa tragédia comove
em senso coletivo
sobre a sua barbárie surreal
reforma aqui
deforma ali
o transviado intransigente nacional
o transeunte indesejado da mais baixa classe social

mas pera ai
nao é bem assim
esse discurso tá editado
veja bem
a fala é fácil
podes ver com meus olhos vendados
os corpos fardados
marchando calados

O corre anda
se a mão molha
a boca cala,
o cacetete bate
o playboy late
que cota é roubo

mas e o preto
teu empregado submisso
assalariado
tirado de bandido
malandro e mulambo
com sangue no passado


"colonização, escravidão, aculturação e servidão, como é que ficam os negros, índios e quilombolas nessa conta de igualdade ?"

O Brasil vai pegar fogo
O Brasil vai pegar fogo
O Brasil vai queimar

E depois do fogo
sobre as cinzas,
descalços,
dançarão
todas as vitimas,
todos os injustiçados,
todos aqueles que nunca tiveram chance,
Do lixo histórico se libertar
nos escombros da vida e dos monumentos falidos
Na representação monocromática do que um dia foi o nosso colorido
Pois a negligência voa poeira
com partículas de nós
quantas histórias mais se queimarão ?
Quanto vale o mar de lama que cobre a vida indiferente ?
Mercantilizam sonhos de quem morre sonhando em um container
Eu só quero um gole de sobriedade
para suportar as letras que narram o espetáculo das mortes estúpidas e evitáveis
Pela humanidade que ainda resta em mim
o povo esquecido incandesce em vida e memória
e cada muro que separa
mata um Nativo sem terra
cativo em guerra de demarcação
Porque eles pedem
Pela paz com armas
E pela liberdade de poder oprimir
Eles insistem que seja normal
Ser contra alguém amar e ser feliz
E assim é que eles acham que as coisas devem ser
Eles não ligam se escorre sangue
Até que seja deles
o sangue a escorrer.

Queima satanás.