sábado, 17 de novembro de 2018

Todas as horas

Eu sou metade aquilo o que eu quero
e metade aquilo o que é impossível
sou gozo do pouco
com tempo de branco
em classe salvaguardada
não obstante, de mão no volante
pisar pulsante
ouvido polido
olhos remelentos mal dormidos, alvora à educar

Como é bela a bruta flor
sólida e espessa a árvore dos quereres
o jardim feio da casa do falo
a morada livre do lar de dentro
recorte do geral
pele, alvenaria, demarcações físicas e imaginárias
todo o espaço
encanto libertador de fascínio ofuscante
que esconde os números que nos medem
em peso e valor

As réguas me enquadram
e fazem retas as chances do risco torto
fora do eixo, em curvas a dar vida
exercício de força para fazer caber
mensurar o imenso
censurar o que demais for extenso
contabilizando, suprimindo
sistematizando valores de ser e sentir
de um jeito que me faça perceber e acordar
em plena avenida com o sinal aberto
e os carros atrás, buzinando
o relógio marcando que eu to longe
e novamente atrasado

acelero para tentar fugir da saudade do que eu não tenho
até que o próximo sinal feche.