sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Quartas-feiras de cinzas

As estampas das vestes,
tão quentes quanto o calor humano
o sol, o fogo e o sangue
passaram sarrando em corpos trôpegos
embriagadas de amor
criadas na fuga da dor
reinventadas
adaptadas
improvisadas na certeza de que unir-se basta

As batidas por minuto,
a música frenética
faz dos corpos dança viva
sons, espasmos ritmados involuntários
transpiração feliz
suor que vale a pena

E assim se vão os dias
e se faz o mito
onde festa é coisa séria
alegria é regra
tudo é povo
o povo é tudo

Carne que não é de carnaval
não é também desse planeta
terra onde quem adentra não sai
se conhece não esquece
imerge paralelo
emerge com saudade
de volta a neutralidade de cores de baixa intensidade
da naturalidade caótica
de dias cinzas








sábado, 3 de fevereiro de 2018

Poesia sobre a Nina

Nina é menina
gente
infelizmente humana
encantadoramente mulher

e como gente
humana que é
tem olhos
nariz, ouvidos e boca

e como toda boca
é boca de gente
onde o que se fala (por enquanto apenas tenta)
são palavras

palavras são o que escrevo
e por mais que tente
em palavra não cabe gente
não cabe humano
mulher
nem menina
quem dirá a Nina.

Vida Desgraçada

O peso líquido oscila,
equaciona o bruto do produto interno
que se traveste em duração
na supressão que faz o tempo valer

quisera a teia poder tecer a aranha
a inversão,
o objeto do resultado
o contrário de tudo
o depois do antes
que ainda nem foi
derivação
igual derivado do mesmo
do parecido
como imita, lembra
recorda
o análogo,
similar
explicado por sinônimos
a indiferente mesmice
medida pela distância entre ser, suportar e sonhar
o esforço revolucionário da repetição


Ofego demais
demasiadamente
em demasia à mente
em esperas
e trocas
qual sou e me faço, pelo que expiro
quando impreciso, e julgo preciso ter
ou até mesmo o equivalente ser
ao que de mim se faz necessário

Já sou dois
e dobrado
me atento
ao que posso e aguento
suporto, supro e somo
no mar como se fez urgente
para mostrar-me o mundo parelho pra caralho !

E dele me cabe
ao qual me basta entender
o que de fato emana sentido
valor e bravura
é a vida temer a morte
passar
ir e vir
no devir da passagem
dos ciclos
morrer durante e nascer no fim.