quarta-feira, 18 de julho de 2018

Com que roupa eu vou ?

Me despeço das ombreiras que me fazem robusto
debaixo de um pano que engana minha pequeneza
me despeço dos sapatos novos
pelo velho couro do pisante engraxado que ainda brilha
me despeço da segurança da gola dobrada,
do corte feito sob medida aos trapos
que vestem desajustados
o homem hipotético
as matérias
e a certeza
que se dispersa na inconstância da crise de representação.

O homem hipotético que precisa do espelho
precisa do corte do tecido que tece a forma
do produto final a sobrepor a pele nua envergonhada
um reflexo de base
palpite que assegure quanto à sua insegurança
e seja combustível da efemeridade, confusa
travestida de aventura ou talvez até amor.

Os panos que cobrem se refazem
recombinam como ideias
uma pele sobreposta, de fato verdadeira
que honra em suas marcas
a distância do caminho percorrido no tempo
com o real tamanho dos ombros que sustentam a existência.

Deixo de lado as estampas,
combinação dos textos com cores que comunicam ao contato dos olhos
uma definição de algo que não pode me pertencer
pois me guio furtivo
duvidoso e descontente com as vestes que me conceituam
prefiro a elegância do simplismo honesto
neutro e discreto
feito camiseta lisa
metamorfósica