quarta-feira, 17 de agosto de 2016

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Legado do cerrado

Um vórtice entorpecente
enlace ansioso em desalentos
escambo de sorrisos, lágrimas e medo
inquietude vasca
ombros calcados
desbravadores
de pobres
de seres corajosos
crentes e esperançosos

o insustentável peso das relações
peso de fatos e destratos
epílogos diários
um ontem confuso
que amanhece hoje intenso e me põe preocupado à parir saco pro amanhã

Mas eu não deveria querer saber demais
sobre o chão que não calça a palma dos meus pés
dos olhos que não podem encontrar-me
das vontades e saudades que não me incluem
teorias e teoremas
números e narrativas
modelos, módulos e métodos alheios
explicações e sentidos que traçam facetas
que nos cobram com a vida

Não cabe à mim me apressar
a buscar lucidez
resiliência e a essência
ter no outro meu centro
sanar encargos de consciência
crises
conflitos existenciais

Não pode haver o todo do nós sem não ter eu
eu tranquilo, leve e sóbrio
feliz por conta própria
agradecido ao olhar para dentro
contente com o mundo que engulo
que cabe em meu estômago

Preciso ir
ausentar-me do aglomerado
de paredes que separam corpos
e de ponteiros hostis
redatores da escrita do tempo
tempo que passa na pressa
sem ser sentido como deveria

E como uma flor
furei o asfalto, dei cor à estrada
deixei-me avoar no fluxo
dos ventos de agosto
fugindo de qualquer desgosto que eu possa ser
provando da vida
no seio do cerrado
longe de logotipos e do globalismo pós-moderno
compreendendo o homem que sou
com meu devido lugar, abaixo da natureza
na terra que se faz firme para eu poder pisar

Nessa fome de vida
quero comer da bondade
da pureza de braços
que se estendem para fazer valer a ajuda
e retribuo com meu deus para que fiquem com ele
enquanto firmo os passos que pontuam meu caminho
e se faz
as lembranças
as passagens
por cada metro de mundo que me ponho a encarar
dando à luz a mim mesmo
e a chance de me conhecer.