sexta-feira, 22 de julho de 2016

O exílio de nós

Não caibo num quadrado de paredes brancas
não caibo no conjunto de quadrados de paredes brancas
não caibo por onde resguardam as trancas e as grades
não me aprumo ao guardar-me sob o teto que me esconde

Me esguio furtivo pela Castro Alves
subo melidroso no sereno da Getúlio Guaritá
caminho em alerta por toda a Maestro José Maria
atento ao vento que balança as amendoeiras-da-praia
ponderando olhares incisivos que cruzam cintilantes ante aos meus passos desconfiados

A tristeza é o breu das sombras inabitadas
que tomam conta da Barão da Ponte Alta
e que fazem da esquina com a Conde Prados 
uma monocromia imperativa 
da geração que se deleita com estampidos que suscitam o silêncio a seu favor

É a amargura do vazio que me faz ater na memória a dor
é confronto da rebeldia versus ignorância
revelia de mulher que provou da covardia
a existência de gente sem empatia que tem por tarefa agir sem amor

Foi para longe a inconstância de passos leves e despretensiosos
dispersaram-se todos
para os quadrados de paredes brancas
para seus conjuntos de quadrados de paredes brancas

Trancafiados em medo, imersos em dúvidas 
exilados em si mesmos à vigília de retaliações
o silêncio fala alto, acomete todo o espaço
transmuta nas paredes o senso de quem tem muito a dizer

De quem tem sede de lotar a rua pra fazer carnaval no meio de semana
com a miserável graça de ser um jovem trôpego e irresponsável
que brinda a vida ébrio de fardos, embebido nos trâmites da vida adulta
taxado de réu pelos presunçosos de si mesmos que marginalizam as divergências
relegando ao estado a missão de ferir o âmago
dos que se põe a fugir da prisão dos quadrados de paredes brancas.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Enojado

A carga é um passo de embriaguez
do que rompe a inércia do improvável
e assola em fatos os corpos que se arriscam
pagar pra ver, ter em si
o gosto de tocar e provar  a loucura
de testar o doce e o amargo
de tudo o que se vem a desdobrar
de como a vida nos trás os dias
e de como nos consome o tempo
com as curvas de ruas inéditas em que nos metemos.

E eu,
na sobriedade da perdição
em estado deplorável de incertezas
de despedidas cotidianas e investidas ao vazio
aceno cabisbaixo ao passado, presente e futuro
em forma de gente, de mundo e de cores
porque guardo o íntimo de tudo o que já me tocou
e anseio inocente a recíproca da gratidão
por corações e sonhos aos quais me doei
mesmo falhando com graça ou sendo a desgraça
que põe a doer.

sábado, 9 de julho de 2016

Estamparia

Veste que investe o cerne de farda
e falha em fala 
quando a moldura faz-se forma
da moda que fode
a vontade em rasgar
quebrar e pisar
panos, ideias
e tudo o que eu não sou
mas que faço ser
aos olhos de quem vê e vale
medida calculada por peso
tamanho e etiqueta
que em nada se assemelha
ao corpo que veste o que investe o cerne de farda




segunda-feira, 4 de julho de 2016

Frio na barriga

Rasga minha carne a apreensão do ir e do devir
do incerto que investe em mim
todo o medo e desespero em deixar histórias
fechar um livro com capítulos de sucessos e fracassos
que temperam com saudade as lágrimas que não posso conter
sem nem ao menos ainda ter partido

Me dói deixar em aberto e avulso
todas as entrelinhas que não pude preencher
por toda a inconstância que fui e causei
e ver pelo retrovisor o meu presente se esvaindo
tornando-se distante à cada nova curva de vida

Palavras que não disse, poesias que não escrevi
olhos que não brilharam mais à mim e tudo aquilo que eu poderia ter sido
porque me culpo por estar feliz aqui
porque não suporto sozinho o peso de ceder ao novo
e ver nascer memórias que um dia eram vívidas e palpáveis

Abraços e gargalhadas numa contagem regressiva
encontros de peitos e mãos numa áurea de sentença
onde o partir é o aresto que me põe a doer
por todos os cinco sentidos vitais
que se fizeram no espaço que chamei de meu
por amar cada pedaço do que se fez à mim

Deus
me dê forças para suportar a saudade e a distância
do que marcou minha pele e meu caminho no tempo
me permita ao menos o privilégio de poder rever e reaver
encontros, pessoas, amores e histórias
e faça do amargor insustentável
dos erros que cometi
degraus de aprendizagem
para uma vida que corra sempre no sentido da felicidade