quarta-feira, 8 de junho de 2016

Manoel dos Santos, nº 415

Meus sonhos
meus medos
meus erros
a cama vazia da criança que eu era
retratos, lembranças e objetos

Pai na sala
mãe no serviço
irmã distante
irmã no quarto, dando vida à puberdade
a mesa posta está vazia
o jantar é a sós pra saciar a pressa de ser
pra ser e poder ter
e que não permite nos unirmos frente ao pão

Um risco torto no chão
contínuo e constante
meu pedaço de caos à casa da misericórdia
onde o pai é guardião e protege os filhos a qualquer custo
onde a paz e o frio dos cômodos de pedra invadem minha pressa
e aniquilam meus sentimentos autodestrutivos

O único ar capaz de me curar da abstinência da loucura
desse mundo tão cruel
que me levou ainda jovem para brigar por um lugar
e quando perco sempre volto
quando dói é aqui que venho
para os braços de quem me trouxe ao mundo
para a casa que firma meus passos trôpegos