domingo, 27 de novembro de 2016

Macaco Metrópole

Passos mecânicos
piloto automático
cabeça baixa
tudo tão cinza
retrô
monocromático
vintage por insuficiência  
bradado às pressas por gente que corre
rumo ao imediatismo etiquetado do futuro
sem sobras no relógio
ao som da orquestra das buzinas
e da banda dos discos de freios

fumaça demais é pouco
engole-se
goela abaixo
entre banners e outdoors de uma vida institucional
a instância
urgente das fases
que passam sem sorte
na maré de ventos ateus

da fé
e do querer
sobram restos de intenções
sonhos
que não atravessam a rua
amores
que se perdem pela avenida provando o gosto do piche
quimeras e desejos
anseios e ideais
caem esfacelados ante a vida moderna
e morrem entorpecidos
aos pés de paredes batidas

o antigo moribundo se faz da força das memórias
senão descritas
sobre o topo
por tocar os olhos em pompas vistosas
sob a derrocada
decadente
das paredes/telas que se pintam de corrosão

Mãos vivas vigorosas
se incriminam das falácias
ao renascerem do branco sujo
de esquecimentos
a chance que adorna e estampe os olhos
com cores e valores

E o primor invasivo que ocupa
transforma
dá sentido e faz o dia e os passos nas ruas
um movimento para se pensar e se sentir
abraçando os olhos com a quentura das matizes e as formas
de quem propõe uma fuga
deste sintético experimento
caótico
chamado cidade

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Inconstância

Subir e planar

Descer e flanar

Vazio propulsor

Barriga cheia não põe a mesa
não corre às beiras com os pés descalços
pede e pode o tudo em todo
sempre muito
muito e sempre
sorri solene os dentes brancos
brinda imenso aos copos cheios
no desperdício do sol que nasce e não arde a pele
em regimento estético
às lágrimas da demasia
do marasmo
do gosto do tempero pronto

Viva a fome que faz tremer
o corpo
a vida e a verdade
antagônica 
propulsora de vontades
das desgraças e dos reveses 
de quem clama a luz do dia
o querer e a sorte do novo
e vê na falta
a fartura das coisas boas da vida.






sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Filho (a)

Eu, 
tolo
pequeno
mergulhei
no mar de ondas 
que só vão
pra longe
pra baixo
onde é gelado
escuro

Beba da sorte 
da vida constante
não durma em reveses que lhe acometam
e nem tente ser poeta
respire sempre fundo e eu me farei presente
pela sua carne viva
passos
e palavras

Se esvai o caos
vem o silêncio 
pra cantar o nascer
da flor irresponsável que resiste em brotar 
na dureza de tempos difíceis

Lá no oeste
onde se põe a lua
o breu vai embora
pela luz do sol que nasce e vem do leste

Me ponho como um satélite
em meu tempo
sob a égide de meus giros
pela força de minha órbita
não tente entender
apenas me perdoe.

sábado, 17 de setembro de 2016

As letras que me faltam

Meus olhos poetas
deixaram correr
as palavras
em pernas de passos rápidos
e curvas inalcançáveis
com direito a vento
e rastro de cheiro
passando pela avenida dos outros
em sentido anti-horário
fingindo ser som
na boca dos que sabem quem são.

Se passarem aqui de novo
eu escrevo sem perdão.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Tem que acontecer

Aos 23
2016
século 21
relembro 64
reconto-me de 93
saio não cabendo
sem ter o que temer
em mim
o querer
que excede a inércia
em deixar
pra lá, pra Deus
as pedras
os meus sonhos


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Legado do cerrado

Um vórtice entorpecente
enlace ansioso em desalentos
escambo de sorrisos, lágrimas e medo
inquietude vasca
ombros calcados
desbravadores
de pobres
de seres corajosos
crentes e esperançosos

o insustentável peso das relações
peso de fatos e destratos
epílogos diários
um ontem confuso
que amanhece hoje intenso e me põe preocupado à parir saco pro amanhã

Mas eu não deveria querer saber demais
sobre o chão que não calça a palma dos meus pés
dos olhos que não podem encontrar-me
das vontades e saudades que não me incluem
teorias e teoremas
números e narrativas
modelos, módulos e métodos alheios
explicações e sentidos que traçam facetas
que nos cobram com a vida

Não cabe à mim me apressar
a buscar lucidez
resiliência e a essência
ter no outro meu centro
sanar encargos de consciência
crises
conflitos existenciais

Não pode haver o todo do nós sem não ter eu
eu tranquilo, leve e sóbrio
feliz por conta própria
agradecido ao olhar para dentro
contente com o mundo que engulo
que cabe em meu estômago

Preciso ir
ausentar-me do aglomerado
de paredes que separam corpos
e de ponteiros hostis
redatores da escrita do tempo
tempo que passa na pressa
sem ser sentido como deveria

E como uma flor
furei o asfalto, dei cor à estrada
deixei-me avoar no fluxo
dos ventos de agosto
fugindo de qualquer desgosto que eu possa ser
provando da vida
no seio do cerrado
longe de logotipos e do globalismo pós-moderno
compreendendo o homem que sou
com meu devido lugar, abaixo da natureza
na terra que se faz firme para eu poder pisar

Nessa fome de vida
quero comer da bondade
da pureza de braços
que se estendem para fazer valer a ajuda
e retribuo com meu deus para que fiquem com ele
enquanto firmo os passos que pontuam meu caminho
e se faz
as lembranças
as passagens
por cada metro de mundo que me ponho a encarar
dando à luz a mim mesmo
e a chance de me conhecer.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O exílio de nós

Não caibo num quadrado de paredes brancas
não caibo no conjunto de quadrados de paredes brancas
não caibo por onde resguardam as trancas e as grades
não me aprumo ao guardar-me sob o teto que me esconde

Me esguio furtivo pela Castro Alves
subo melidroso no sereno da Getúlio Guaritá
caminho em alerta por toda a Maestro José Maria
atento ao vento que balança as amendoeiras-da-praia
ponderando olhares incisivos que cruzam cintilantes ante aos meus passos desconfiados

A tristeza é o breu das sombras inabitadas
que tomam conta da Barão da Ponte Alta
e que fazem da esquina com a Conde Prados 
uma monocromia imperativa 
da geração que se deleita com estampidos que suscitam o silêncio a seu favor

É a amargura do vazio que me faz ater na memória a dor
é confronto da rebeldia versus ignorância
revelia de mulher que provou da covardia
a existência de gente sem empatia que tem por tarefa agir sem amor

Foi para longe a inconstância de passos leves e despretensiosos
dispersaram-se todos
para os quadrados de paredes brancas
para seus conjuntos de quadrados de paredes brancas

Trancafiados em medo, imersos em dúvidas 
exilados em si mesmos à vigília de retaliações
o silêncio fala alto, acomete todo o espaço
transmuta nas paredes o senso de quem tem muito a dizer

De quem tem sede de lotar a rua pra fazer carnaval no meio de semana
com a miserável graça de ser um jovem trôpego e irresponsável
que brinda a vida ébrio de fardos, embebido nos trâmites da vida adulta
taxado de réu pelos presunçosos de si mesmos que marginalizam as divergências
relegando ao estado a missão de ferir o âmago
dos que se põe a fugir da prisão dos quadrados de paredes brancas.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Enojado

A carga é um passo de embriaguez
do que rompe a inércia do improvável
e assola em fatos os corpos que se arriscam
pagar pra ver, ter em si
o gosto de tocar e provar  a loucura
de testar o doce e o amargo
de tudo o que se vem a desdobrar
de como a vida nos trás os dias
e de como nos consome o tempo
com as curvas de ruas inéditas em que nos metemos.

E eu,
na sobriedade da perdição
em estado deplorável de incertezas
de despedidas cotidianas e investidas ao vazio
aceno cabisbaixo ao passado, presente e futuro
em forma de gente, de mundo e de cores
porque guardo o íntimo de tudo o que já me tocou
e anseio inocente a recíproca da gratidão
por corações e sonhos aos quais me doei
mesmo falhando com graça ou sendo a desgraça
que põe a doer.

sábado, 9 de julho de 2016

Estamparia

Veste que investe o cerne de farda
e falha em fala 
quando a moldura faz-se forma
da moda que fode
a vontade em rasgar
quebrar e pisar
panos, ideias
e tudo o que eu não sou
mas que faço ser
aos olhos de quem vê e vale
medida calculada por peso
tamanho e etiqueta
que em nada se assemelha
ao corpo que veste o que investe o cerne de farda




segunda-feira, 4 de julho de 2016

Frio na barriga

Rasga minha carne a apreensão do ir e do devir
do incerto que investe em mim
todo o medo e desespero em deixar histórias
fechar um livro com capítulos de sucessos e fracassos
que temperam com saudade as lágrimas que não posso conter
sem nem ao menos ainda ter partido

Me dói deixar em aberto e avulso
todas as entrelinhas que não pude preencher
por toda a inconstância que fui e causei
e ver pelo retrovisor o meu presente se esvaindo
tornando-se distante à cada nova curva de vida

Palavras que não disse, poesias que não escrevi
olhos que não brilharam mais à mim e tudo aquilo que eu poderia ter sido
porque me culpo por estar feliz aqui
porque não suporto sozinho o peso de ceder ao novo
e ver nascer memórias que um dia eram vívidas e palpáveis

Abraços e gargalhadas numa contagem regressiva
encontros de peitos e mãos numa áurea de sentença
onde o partir é o aresto que me põe a doer
por todos os cinco sentidos vitais
que se fizeram no espaço que chamei de meu
por amar cada pedaço do que se fez à mim

Deus
me dê forças para suportar a saudade e a distância
do que marcou minha pele e meu caminho no tempo
me permita ao menos o privilégio de poder rever e reaver
encontros, pessoas, amores e histórias
e faça do amargor insustentável
dos erros que cometi
degraus de aprendizagem
para uma vida que corra sempre no sentido da felicidade

domingo, 19 de junho de 2016

falência em empáfia

Efígie, esboço
padrão, representação
que foi, que é e que quer
pedaço de parte que some
na terra que come pra desvanecer

Lado de gente, instigante
homem, humano e Caetano
na forma em que cobre o restante
sustentando pompas
do peso e do alcance de ser propaganda

Ah, se não houvessem espelhos
não sei o que seria do brilho de quem tem medo de mostrar-se
e nem como viriam à nós na pureza de ser
e os olhos cobertos de um realismo radical
e a força do espaço que é retrato de quem o ocupa
contra o peso do sujeito
que também é consumido por tudo o que chama de seu

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Manoel dos Santos, nº 415

Meus sonhos
meus medos
meus erros
a cama vazia da criança que eu era
retratos, lembranças e objetos

Pai na sala
mãe no serviço
irmã distante
irmã no quarto, dando vida à puberdade
a mesa posta está vazia
o jantar é a sós pra saciar a pressa de ser
pra ser e poder ter
e que não permite nos unirmos frente ao pão

Um risco torto no chão
contínuo e constante
meu pedaço de caos à casa da misericórdia
onde o pai é guardião e protege os filhos a qualquer custo
onde a paz e o frio dos cômodos de pedra invadem minha pressa
e aniquilam meus sentimentos autodestrutivos

O único ar capaz de me curar da abstinência da loucura
desse mundo tão cruel
que me levou ainda jovem para brigar por um lugar
e quando perco sempre volto
quando dói é aqui que venho
para os braços de quem me trouxe ao mundo
para a casa que firma meus passos trôpegos

domingo, 5 de junho de 2016

Âmbar, cor de emaranhados

Passa em frente
o futuro despido de amarras
saia curta, cabelos soltos
irresponsável, provocante
insustentável
o que jamais poderei chamar no íntimo

Paira ao lado o passado
memória coercitiva que põe de pés juntos
a dançar estático a música que sonhamos compor
na sinfonia do silêncio que comove
gutural dos olhares
na dor de lembrar o que suprime a sede de nós

Frio na barriga acusa o perigo
de ser e estar e onde devir
sem pensar em ver porquês
no horizonte a se perder
nos fazer rir de nós mesmos
buscando a cura para o que não há de ser curado








terça-feira, 10 de maio de 2016

10/05

Não a tenho à celebrar
Nem por ouro a me pintar
Passo longe e voo esquivo
Fortuito à espera

Olhos de céu que se marejam
vida bela de pureza
colchão de paz pra quem é caos
embargo ao mal de quem lhe traz

Gira a terra
gira o mundo
gira tudo e gira eu
aponto agora longe o que tocava os meus dedos
aplaudo distante sem a chance de ser ouvido

Mas receba minhas preces
de bom grado e coração
aceite minhas palavras que se fazem ponte ao meu querer
e por querer e não poder só me restam estas linhas
a incerteza e o papel branco pra falar o que não cabe mais em mim

Não há dia que não seja seu
mesmo no minuto em que você se perder
não há alma que não se renda
pois tudo acalma e se põe a admirar
a eloquência de suas asas pelo corpo à voar
o magnetismo envolvente que reflete o azul do seu olhar

Rosto limpo

Personalismos protetores
ponderáveis e impalpáveis
maquiagem de mulher, de homem chulo que não cala
mas se fala, vocifera, contra a pele que arde à mostra
dá o tom da cor que nasce pelo corpo que é verdade
nem ao menos cabe aos pelos construir a forte face
da feição que faz ser gente
ou das pernas que se raspam

É mais a fundo e lá pra dentro
onde os olhos não alcançam
que tilinta a simetria incomensuravelmente
Não há fórmulas nem formas
Não há certo nem certeza

O peso do meu coração
Não o tamanho.

sábado, 7 de maio de 2016

Ana mulher

E o acaso lhe trouxe à nós
Numa nuance de incertezas e dificuldades
exasperando em medo quanto aos trâmites de bolsos
Tornando crianças todas as nossas estimas de adulto
Pondo definitivamente todos os sorrisos no lugar certo

Você já coube em meus braços
Enquanto coube à mim me descobrir teu irmão
Aguçando meus sentimentos pra que eu pudesse sentir por você
Ser por você, estar com você
Acompanhando os primeiros passos de uma estrela que se pôs a brilhar

Aprendi com seus sorrisos que o amor dormia no quarto ao lado
E que a saudade apertava em forma de dor em todos os instantes em que tive que partir
Mas por você Ana Laura, Amanda e meus pais
Voltei pra colher o que jamais encontrarei em nenhum outro lugar do mundo
O amor em seu estado mais puro
Compartilhado por quem carrega o meu sangue.

Amor de irmão é incontestável
É a legítima instância onde o bem transpassa o mal
E faz transbordar os olhos, o peito e a mente

O mundo é grande e você vai ser o que quiser
Ana menina, Ana Linda, Ana Laura, Ana mulher.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Autocontrole

A histeria que me faz repensar
nos súbitos instantes de desespero
onde estou inerte perante ao caos
vendo o mundo girar sob a égide do que foge ao meu tato

Não posso voar sozinho se
no chão me prendo em compartilhamentos
se no chão estou presente
mesmo avulso ao próprio corpo que disponho

Ao melhor que posso me doar me resta a incerteza
em fitar o eu de mim mesmo pelo importe que demando
Em rombos inconsequentes
impensáveis à estética dos moldes que doutrino

Sou carne que arde no toque
arder que instiga o palpável
na dúvida de fazer ater o fundo
que resguarda o mínimo que me põe no outro

Pairo extenso no que sou
esguio e alongado numa liga corpórea
que procede de construções que se consomem em desconstruções
emaranhando meu manejo na busca de prestar-me eficiente
ao espelho que reflete o descontrole em não saber lhe dar com o agudo

sexta-feira, 25 de março de 2016

Ato falho

Me dói a dor que é minha
que fui causa e prato cheio
pra não sentir o golpe do que não me pertence

Me prendo em braços que se estendem
ao que posso eu ser
Despido de rédeas que exasperam
a áurea de não se ater ao rumo das esquinas

Doí em ti
por estar me doendo
Te fiz doer sem querer fazer doer
Pávido, me caio em não me ater ao hino do seu corpo
Em não poder negar a permuta de nossas almas
Em suor, prazer e dor

Impute-me como quiser, mas
avivei o grão que fez restar
com frescor em nossas memórias
o mais intenso e representativo
de toda a inconstância e loucura que chamamos de amor

Me perdoe o ato falho
que falou em dueto ao que desejávamos
falhando do jeito mais honesto e inocente possível



domingo, 13 de março de 2016

Massa de manobra

Pobre zé que se arrastou
a vida toda em prol do pão
ardeu no sol do meio dia pra botar carne na mesa
arou o mato na incerteza de nascer pro amanhã

Aceitou o que lhe deram de bom grado e coração
confiou na lei divina esperançoso em não ser zé
rezou terços, fez promessas
fez do filho a redenção
da mudança que não pôde ver, sentir e nem viver

A escola foi o mundo, o ideal a lei do cão
doutrinado a existir pela ciência de ser gente
exaurido em impertinência nas caçadas do dia-a-dia
da labuta dos que cedo levantam pra se doarem à perdura

Semeou a vida toda um sentimento de exclusão
Viu-se fora do sistema engolido em servidão
Nunca foi representado por alguém que o entendesse
Nunca pôde acalmar-se no lazer de gente branca

Sofrido e usurpado acreditou na televisão
viu na tela a vida bela de quem vive na novela
confiou no engravatado que o mandou bater panela
viu na espreita da direita um discurso no jornal
articulou-se em movimentos pra não ser mais enganado

E lá na rua no protesto, pobre zé não entendia
a madame classe A reclamar da mais-valia
o doutor falar de crise e exalar ostentação
a dancinha ensaiada pra expor indignação

Pobre zé acometido, padecido em intenções
em meio ao caos carnavalesco hasteou bandeira
não pôde apedrejar todas as esquinas que lhe disseram não
esteve envolto no medo pacifista
do golpista oportuno que fabrica a informação

sexta-feira, 4 de março de 2016

Culpa à dois

Acho triste como tudo se repele
e como partem pro depois
indo ao nada
para que dele venha a voz que possa reger ao além
para pregar o desapego
sem sentir-se independente
por os pés pelas mãos forçando a liquidez

O discurso indesejável de amor
não falou dos esquecidos
fez do outro a ruindade, fez-se oposto a verdade
engrandeceu a vasão da dor justificando assim o fim
absteve-se à própria culpa esperando vir de fora
um intermédio que botasse o outro corpo a se mover
sucumbiu à inanição presunçoso de si mesmo
pecou em egoísmo ao esquecer-se do que também não pôde ser


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Frequência

Tentei falar com os olhos
mas você não me ouviu
fiz do silêncio uma ode
que falasse por mim

mostrei amor com meu toque
mas você não sentiu
esperou por palavras
que não puderam sair

me vesti com sua pele
mergulhei em você
me calei pra lhe ouvir
pois nada tinha a dizer

palavras são pouco
ou nada são para mim
se a boca se abrir
só pra tentar convencer

o que há de ser
vai longe de mim
sou indecisão que consome o tempo
pra deixar fluir

o que há de ser
vai longe de mim
sou imensidão de sentimento livre
pra me permitir

Reesclarecimento

Botei minha cara no sol
pra sentir arder no rosto
o tempo indo, vindo
enquanto eu transpasso o espaço dos passos
tentando entender

sentei com a alma na janela
pra ver o povo passando
cantando graças
nadando em desgraças
buscando os culpados nos desfechos do acaso

deixei-me ir
pra onde eu quiser
ir-me eu deixei
ver la fora como é
matei o meu juízo

fui meu melhor amigo
me despi do que era eu
de encontro ao nada
onde meu poco seja muito
e que a leveza seja tudo o que eu precise ter


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

ela vai

Ela vai andar em bando
pra fortalecer as laterais de um quadrado que a envolva
vai direto ao que é certeiro
e que lhe agrade com amor

ela vai pra onde der
descobrir os cantos que não lhe pertencem
criar e solucionar crises de um existencialismo
sanando medos e matando vontades

ela vai
de batom vermelho
corpo volátil
aprendendo a voar

erguendo barreiras
virando páginas de comédias que não lhe fez rir
pra até mesmo eu ir-me por completo
voltando no mesmo chão que me trouxe

sumindo no mato ou no cimento
como ventos que vem e vão
sem justificativas, reparos ou precauções
esperando o movimento de translação exercer seu ofício,
trazendo a mim o mesmo sol de 2013

eu espero
e observo
e aprendo
mas espero, para sempre


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Não há vagas

Vá embora
Não tem espaço
Não há vagas, olhe a hora
Chegou tarde e vem de fora ?
Sem chances pra você

Talvez em outro lugar
Mas não aqui
Não há vagas
Vá embora

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Passagem

No encontro do que fui ao que um dia hei de ser
vi os calos de minhas mãos serem troféus pelas mudanças que sofri
vi na ausência de quem me jurou a eternidade
o silêncio ensinar o corpo que não tem certeza sobre o que diz
vi nas rugas, a beleza metamorfósica
senti a calma consumindo meus passos pra livrar-me da ânsia de agir por impulsão

E fui de tudo
e fiz de tudo
aprendi palavras novas pra saber me expressar
entendi o ciclo dos corpos pra saber me portar

Fiz minha morada em todos os cantos que me senti liberto
chamei de meu o pouco abundante que fez farto meu cardápio de sorrisos
me perdi em encontros que aguçaram minha incerteza
me encontrei em desencontros pra ter a certeza de que não há certeza alguma
dois mais dois também pode ser cinco, o infinito pode não ser porra nenhuma
a exatidão se faz do acaso da ciência de nossas dúvidas

Me alforrio da obrigação de ter que decidir
pois foi deixando ser que me fiz poeta
foi deixando ir que aqui cheguei
trôpego em planos plausíveis
firme e forte em sonhos impossíveis


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

TCC

Ah se você soubesse das contrações que me dilaceraram
das dúvidas quanto ao teu rostinho
e da incerteza acerca dos teus passos
sua ausência ainda é uma certeza
mas nutre a esperança de que um dia caminhará liberto

Nem que eu pudesse imaginar
acreditaria em sua identidade
fez jus às confusões de minha mente
dando vasão ao que eu nem imaginava ter dentro de mim
a dor é eminente

Estou parindo

Malabarista da praça

Paraty-RJ, 4 de janeiro de 2016

O balanço do teu corpo me seduz
me faz crer que a vida é uma canção
em meio ao compasso dos passos
que faz teu corpo rodar
enquanto brilham os meus olhos
hipnotizados com seus movimentos
despido dos porquês que me levaram a você
enquanto transo estático acompanhando sua dança

Sua leveza traz paz ao caos que lhe assiste




terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Leal

Paraty-RJ, 3 de janeiro de 2016

Onde pedras traçam o canto
como uma trilha que nos faz olhar pra baixo
onde o aperto e o cheiro da madeira
se transformam em goles de redenção
pela destreza do velho que veste um chapéu

Tempos que transam desiguais
entre tijolos que exalam o ranço do suor de escravos,
uma moderna alvenaria paga a prestações pela classe média
e mansões desnecessárias de pessoas vazias

300 praias de um fardo monárquico
que fazem de suas belezas uma brecha para a exploração
que se justifica pelo peso de seu lugar na história
história que falou de quem mandou
e que ignorou quem a tornou palpável

Mas é na riqueza do contraste das esquinas
que as pulsões se estabelecem
levando sentido e mais cores
ao lugar que transcende o tempo
contando segredos em cada porta que contempla a rua
em cada sorriso desprovido de certeza



domingo, 10 de janeiro de 2016

Ribeirão Preto, terra da cerveja

A mão que ara a terra ergue o copo com valência
o suor do panhador em redenção por cada gole
o gosto da poeira em cada nova saideira
a remição dos bebedores em rodadas de malemolência

Viva a terra do café banhada pelo ribeirão
viva as mãos italianas que avivaram a fermentação
um brinde ao calor, um brinde ao progresso
califórnia brasileira espumando em tradição