terça-feira, 22 de setembro de 2015

Código de barras

A melancolia da sombra soturna
Despida e dilacerada em forma de abraço
A cabeça que se deita no peito
O mar cor de rosa da paz de espírito

Corpos escravos da indiferença do dia a dia
De uma vida que vai indo e se ajeitando em discursos
Por palavras que defendem a singularidade do individualismo
E fazem do todo uma guerra de egos

Palavras que ganham vida e força sobre-humana
Capazes de aprisionar a própria boca que as profere
Numa constante provação de ser o que se diz
Em dizer o que há de ser feito enquanto se finge o que é

Basta desapegar-se a si destruindo convenções da própria identidade
Abrindo margens para passos de um rumo sempre novo
Pra fazer cair a instituição que somos
E varrer dos nossos arredores toda a seletividade meritocrática

Nossos medos são idênticos
E que se encontrem
Pra fazer a cabeça tombar no peito da complexidade alheia
Sem a culpa de julgar as diferenças que repelem os corpos


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Corpo de plástico

Ambiguidade que aflige
Ânsia do ciclo descartável
Giro de corpos d'uma anedota instigante
Bocas de roleta

No jus da sorte o corpo vale um preço
Valendo a moral e a integridade
Pela estabilidade em se manter feito uma joia
No apreço de quem um dia admirou a porcelana

Da madeira ao ferro
Do ferro ao vidro
Tem que saber fazer valer
Plenitude materialista de cabeças, pernas e genitálias

Olhos que brilham numa contagem regressiva
Deixando o tempo levar a leveza de sua narrativa
Pois as bocas mentem enquanto o tato finge e força a persuasão
Faz a carne reciclável a qualquer anseio que domine nossos instintos

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Polícia sai do pé

De que adianta eu querer
bater de frente com meus ideais
perante a solidez impenetrável
bruta e ignorante de quem abusa do poder
ostentando a arma na mão

De que adianta discutir
com pedaços estúpidos de carne
que nada compreendem e se encontram adestrados
na condição de serem passivos a ordens
que têm a violência como conduta de um ofício
e fazem da opressão ciência e método para um estilo de vida

Gente que vem na calada
e disparam discretos do jeito mais covarde possível
sem dar alardes
sem permitir holofotes que denunciem suas ações
deixando bem claro o significado da pressão
para impor o peso de armas que sobreponham braços pávidos

Porque é assim que funciona
e é assim que tem que ser
se reclamar apanha
se apanhar tem que calar

Não me rendo a condição
não me dou por vencido
não posso, não devo
são fatos, são reincidências
que fazem valer o meu esforço
de tentar abrir os olhos de quem faz força
pra não ver a violência que se mascara na figura de quem deveria apenas nos servir