Lembro-me de quando ouvi seu choro ao sair de mim
Você parecia assustado com o novo ambiente
Não sei como explicar, mas desde aquele instante eu sempre consegui sentir o que você sentia
Virei duas
Ah, mas vocês não sabem como eu já me desesperei
A impotente sensação de te imaginar passando fome
O dia em que te vi apanhar de seu pai, ter que engolir a seco cada porrada que você recebia
As suas propositais decisões erradas
Eu ralei
Abdiquei de mim mesma para te proporcionar o melhor que fosse possível
As minhas intimidades deram lugar à preocupações
O medo constante tornou-se eterno quando te vi sair de casa
O mundo te engoliu
Cortou suas raízes, te fez romper com a sanidade
O garotinho que vinha correndo à mim, chorando, apontando o joelinho machucado,
ficara irreconhecível com aquele cabelo comprido, com uma barba que fedia a pinga, com os poucos dentes que restaram em sua boca.
Quando finalmente te reencontrei, aos 28 anos, com 47 kilos,
você me olhou nos olhos e pôde sentir-se seguro pela última vez
"- A mamãe está aqui, tá tudo bem."
E eu te abracei com o mesmo amor de quando te amamentava.
Na proposição do ciclo comum que o tempo exerce, você me enterraria
Pra que eu pudesse me livrar dor de ter que enterrar você, meu filho.
Aonde quer que você esteja, saiba que eu te amo.
quinta-feira, 17 de abril de 2014
sábado, 12 de abril de 2014
Saturado de amargo
Por mais que eu tenha fumo pra tragar, não o farei.
Por mais que eu possa me vestir, não o farei.
Continuarei em posição fetal.
No meu drama ou em qualquer lugar que eu possa chamar de lar.
Nenhum enfeite me toca.
Nenhuma alternativa é luz.
Da carne que quero fiquei apenas com o cheiro.
Do que é concreto e palpável eu prefiro é o zero.
Meu marco retrógrado.
Atrasado. Que perdeu.
Que nunca teve.
Que por tudo o que possa parecer de ganho, nada tem.
Mudam as drogas.
Mudam as casas, as peles e as experiências.
Nada se prova. Nada posso provar.
O barulho da porta se abrindo é fruto da minha cabeça.
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