segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Lemuel

É estranho você se sentir um nada por alguém que é julgado um nada. Um bom cigarro, bebida e roupa cara, atitudes planejadas que buscam atenção. Nós somos assim, extravagantes e orgulhosos, fúteis em um determinado padrão de vida que criamos. O bem estar que nos acomoda cria vínculos viciosos com coisas supérfluas, coisas desnecessárias que passamos a desfrutar de uma maneira acomodada num sistema de vida egoísta e hipócrita. Por mais que tentemos o contrário, diariamente mesmo que inocentemente, comportamentos hipócritas são cagados no rosto dos outros. Queremos o bom e o melhor, não aceitamos com agrado o que não se encaixa num determinado modelo de perfeição. Preconceito guardado pela vergonha do que talvez não seja suficiente à nossa ambição. Saímos de casa buscando embriaguez ou alguma sensação alucinógena. Somos um perfil de status preocupado em demonstrar belas aparências.

Despercebidamente, taxamos à lixo corpos semelhantes. Talvez pelo que você diz ser questão de higiene, ou por os considerar vagabundos e bêbados, ou somente pela sua repulsa preconceituosa. Todo aquele mal cheiro exala o aroma do mundo que criamos, do chão que cuspimos, da fumaça do carro que nos causa orgasmos, ou do lixo que a pouco tempo era algo útil nas mãos de quem pagou pra tê-lo. É tão estranho perceber o valor de alguém que se desvencilhou, abdicou-se de bens materiais pra rastejar feito uma lombriga corrosiva e doente pelo chão que privamos por classes sociais, vivendo a Deus dará numa vida por instintos que matem sua fome. É automático um pensamento negativo no momento em que batemos o olho em alguém que mendiga dinheiro pra comer, beber ou se drogar. Esse egoísmo é o que nos evita de um espelho justo, o qual mostraria a verdade que raramente nos damos conta: Somos a mesma espécie de animal.

Lemuel foi um mendigo que conheci. Ele me confessou ter perdido a vontade de viver. Lemuel ficou preso 17 anos por decepar o estuprador de sua irmã que era portadora de síndrome de Down. Hoje o mundo o evita, sua família lhe nega e as drogas o matam. Mas isso é irrelevante, afinal, a vida miserável que não temos não importa.